Era
fim de tarde em Port Royal quando três embarcações da Marinha Real
aportaram. Elizabeth estava na vila com sua dama de companhia – tinham
ido olhar o mais novo empreendimento de seu pai, um empório que acabara
de receber lindos trabalhos das bordadeiras do mosteiro – quando ouviu
os murmúrios e a movimentação em direção ao porto. Curiosa, ela chamou a
moça para ir dar uma olhada, mas Elena logo a lembrou de que o
governador não queria que elas andassem sozinhas.
–
Ah Elena, você sempre estragando meus planos. Não gosta de aventura? Hã? – Disse sorrindo enquanto olhava um lindo vestido branco com bordados cor de alfazema.
–
Não é isso, senhorita... veja este combina seu tom de pele! – Elena mostrou um vestido pêssego com bordados florais alaranjados.
–
Acha mesmo? – Elizabeth pegou o vestido cuidadosamente e colocou frente ao corpo, olhando-se no espelho.
– Este lugar será o maior sucesso, não acha? – Virou sorrindo para Elena enquanto colocava o vestido no lugar.
–
Impressionante... o mesmo sorriso adoravelmente bobo...
Elizabeth virou-se para a entrada e logo o sorriso diminuiu, porém o manteve para ser educada.
–
James!
Ele sorriu levemente, e olhou em volta.
–
Creio que seu pai tem muito motivo de orgulho, vejo que sua idéia deu certo. Parabéns!
–
Obrigada... mas não trabalhei nisto sozinha – Ela sorriu. –
Mas me conte... o que o fez voltar? – Perguntou já com receio da resposta.
–
Bom, acompanhem-me até a mansão e contarei no caminho.
Seguiram
de carruagem até a mansão. Poucas horas depois, estavam todos à mesa
para o jantar: Elizabeth, James e o Governador. Havia porco assado e
isso deixava o senhor Swann feliz. Elizabeth, como sempre, mantinha os
mais finos modos.
–
Sr. Norrington, foi uma perda inestimável a sua partida. Eu e minha adorável filha sempre tivemos uma grande estima por você.
Elizabeth olhava meio torto para o pai e este perguntava-lhe:
–
Não é verdade, minha querida?
–
Oh, sim. Uma impressionante estima. – Debochava sem disfarçar, voltando a comer despreocupadamente. James ficava desconcertado.
–
O que isso, Elizabeth? Não é apropriado...
–
Não é apropriado mentir, meu pai. – Interrompeu –
Não foi assim que me ensinou? – Sorriu sarcasticamente.
James achou melhor interromper.
–
O fato é que aqui estou, Sr. Swann. E venho em nome do rei. – Falou com voz autoritária.
A
partir daí, apenas falaram sobre assuntos do Estado, o que começou a
entediar Elizabeth. Toda aquela diplomacia não fazia o menor sentido
para ela, aliás, fazia apenas um sentido: ambições. Parecia a ela que
todas as leis só existiam para beneficiar a minoria que já tinha maiores
benefícios e pouco importava se alguém ia à forca inocentemente. Amava
seu pai, mas indignava-se com a maneira que ele deixava-se persuadir por
homens ambiciosos como James Norrington. Tentava conversar com ele
sobre o assunto várias vezes, mas ele sempre a tratava como criança
inocente. “O que sabe sobre governança minha pequena?”. Isso a irritava
tanto. Mas no fundo ela sabia que seu pai prezava os valores da
lealdade, da palavra, do sentimento, algo que começava a tornar-se raro.
Ele também sempre foi compreensivo para com ela, sempre a apoiou e
nunca a obrigou a fazer nada contra a vontade, até mesmo quando o
assunto é casamento... e casamento passou a ser o assunto da mesa agora.
–
Noivo? – O governador Weatherby sorriu e fez um pequeno gesto de comemoração. –
Ah mas que boa notícia! Quem é a felizarda?
Elizabeth
já pensava em retirar-se da mesa, mas com essa notícia bombástica
decidiu ficar e ouvir. James parecia ter um olhar bobo, como quando
dirigia-se a ela a um tempo atrás.
–
Sim, ela não só tem o mesmo nome que você como também parece muito, Elizabeth.
–
Não diga! – Mais uma vez, foi sarcástica. Mas logo interrompeu qualquer comentário, falando com sinceridade. –
Mas então, fico mesmo feliz por você James! Vamos tomar um champagne e brindar!
–
O que é isso Elizabeth? Nada de bebida alcoólica para você! – Disse sorrindo o Sr. Swann. –
Mas um brinde não é nada mal!
Elizabeth
reclamou, mas aceitou brindar com refresco. Mal sabia o pai que ela
havia experimentado rum com uma pirata. Riu-se, lembrando. O Sr. Swann
estourou a champagne e todos brindaram sorrindo. Neste momento ouviu-se
um estrondo alto, vindo do porto, que não ficava tão longe da mansão, a
vila era pequena. Elizabeth reconheceu e logo assustou-se. Eram canhões.
James e Weatherby entreolharam-se, o governador tinha um olhar mais
assustado do que o de Elizabeth.
–
Ai meu Deus! Piratas! – Gritou ele.
–
Venham, rápido!
– Chamou James, correndo com os dois para fora da mansão a fim de tomar
a carruagem e levá-los com segurança para o Forte Charles. Entraram
depressa na carruagem e seguiram pela vila, que já estava sendo tomada
pelos piratas. Gritos, trincar de armas e tiros eram ouvidos. Elizabeth
encolhia-se abraçando seu pai, apavorada. Uma explosão fez a carruagem
virar. James e Elizabeth não se machucaram, mas o Sr. Swann estava
desacordado e ela ao perceber desesperou-se.
–
Pai, papai acorda por favor!!!
Um pirata percebeu que se tratava da carruagem do governador e logo ouviu-a.
–
Companheiros, venham aqui! A filha do governador está aqui, olha que gracinha!
–
Arrr! – Três piratas vieram gritando e eles tiraram Elizabeth à força.
–
Não, não, não! Pai, pai!! – Gritava ela aos prantos.
James
conseguiu se soltar dos destroços e sacou sua espada, atacando os
piratas imediatamente. Empurrou o primeiro, golpeou o segundo e correu
até os outros que estavam com Elizabeth até que um deles ameaçou-a com
uma faca e James congelou. Este fugiu com a garota e os outros partiram
pra cima do homem, que lutava heroicamente.
***
Elizabeth
foi levada amordaçada e amarrada para o navio pirata. Não tinha sido
fácil contê-la, e os piratas levaram vários pontapés, arranhões e
mordidas no caminho. Ao sair no bote, viu o navio iluminado pela lua
cheia e envolto por uma névoa. Quando chegaram perto, percebeu que o
navio não só tinha as velas negras como todo ele era de madeira negra.
Pérola Negra? Perguntou-se. Logo, embarcaram no navio.
–
Bem vindo ao Pérola Negra, gracinha... – Falou um dos que estavam subindo os botes. Ele era pavoroso, faltavam-lhe dentes e tinha os olhos tortos e medonhos!
–
Levem-na logo para a prisão! Depois veremos com o capitão o que faremos. – Disse outro, que parecia ter uma autoridade a mais.
Levaram-na
imediatamente. Uma confusão se fazia no convés e o navio começava a
zarpar. Elizabeth transformou o medo em excitação ao saber que estava no
lendário Pérola Negra. Esquecia de que estava refém e tentava olhar
curiosa tudo no navio, mas não dava certo. O pirata que a levava era
grotesco e ameaçava batê-la a cada vez que tentava mover a cabeça para
olhar algo. Ela então voltou a ter medo, não imaginava o que aquele
homem poderia fazer com ela. Desceram até o porão dos prisioneiros e o
homem a jogou em uma cela, trancando-a logo em seguida.
– Você tem sorte de estar em um navio sob o comando do Jack Sparrow, garota. – Disse passando o braço pela grade e arrancando a mordaça dela.
–
Sorte? Não considero um seqüestro como sorte! Muito menos tendo que aturar um pirata imundo como você! – Disse ela furiosa, encarando-o.
O pirata rapidamente segurou o pescoço dela, levantando-a.
–
Olha só... não tem noção do perigo. Tsc tsc... uma coisa tão bonita...
–
Solte-a. – Uma voz autoritária feminina o fazia parar. O pirata então olhou ameaçador e saiu.
Elizabeth
colocava rapidamente a mão no pescoço, tossindo, e quando levantou o
olhar para ver quem se aproximava não pôde deixar de ficar surpresa com o
que vira.